domingo, 21 de outubro de 2007

Capítulo 22 - Identidade, parte I

Depois da conversa com Davis, Samantha ficou remoendo por bastante tempo o que ele havia dito e imaginando se era verdade. Se alguém não aceitar a reunião, já saberemos quem é o assassino, foram as palavras do rapaz.

Por sorte, ou azar, todos concordaram em expor um pouco mais de suas vidas particulares e a moça teve que admitir para si que, desta vez, Davis havia se equivocado. Quando Samantha comentou isso com ele, Davis deu de ombros e assegurou-a de que na reunião, sem dúvida, a máscara de Kaninchen cairia.

Se o advogado estava certo, a moça não sabia, no entanto, não tardaria a descobrir. Naquela mesma noite todos se reuniram dentro da confeitaria. Como não havia nenhum fator material que os prendesse ao Ravintola, o restaurante foi substituído pelo o que parecia uma loja de conveniências como moradia para os treze. Ao passo que no estabelecimento finlandês não havia nada além de cadeiras e mesas, o lugar em que eles estavam agora era quase como um abrigo repleto de mantimentos.

Havia um grande espaço logo na entrada e foi lá que todos se sentaram em círculo. Eram quase oito horas da noite quando eles começaram a contar mais sobre si. Um por um foi revelando o que fazia antes de chegar à cidade misteriosa. Primeiro foi Jacques quem se propôs a falar. E depois Nicholas, seguido por Joanne, Jacqueline e assim prosseguiram por várias horas.

O francês Jacques Chevalier começou dizendo o que todos já sabiam: que era físico. Contou toda sua trajetória até elaborar, com 26 anos, a “seqüência elíptica” - descoberta que o tornou reconhecido no seu ramo - desde sua juventude em Chaumont; disse como conheceu sua ex-esposa Christine em uma livraria e como ela morreu fatalmente acometida com uma falência cardíaca; e falou ainda sobre o porquê de ter escolhido morar em Scacci - a cidade em que todos estavam quando foram levados inexplicavelmente até onde estavam agora.

O próximo foi Nicholas Gilmore. O ex-policial poderia ser fisicamente definido como alto, com cabelos grisalhos e uma rude expressão no rosto. Porém, o que mais o marcava atualmente era o seu abatimento por ter perdido a esposa Lisa e a sua preocupação por estar distante de seus dois filhos, Luke e Christopher. Nicholas iniciou contando que havia feito faculdade de Medicina, mas resolveu abandoná-la logo no primeiro ano para trabalhar na Polícia. No entanto, após darem um tiro na sua perna direita, alojando ali uma bala de revólver, ele teve que mudar de função e passar a ser somente auxiliar do delegado Cravens, até decidir sair do departamento de polícia.

Por sugestão do próprio Nicholas, quem o sucedeu foi Joanne. A bela jovem de 18 anos explicou que ainda era estudante e sua pretensão era cursar a faculdade de psicologia neste ano. E a cada palavra que dizia, a calma e doçura de sua voz tornavam ainda mais bonitos seus cabelos loiros e olhos castanhos. Ela também falou um pouco de sua mãe e de seu pai, que moravam com ela e a irmã Jacqueline, deixando os outros perceberem o quanto Joanne estava preocupada com seus pais.

Meio a contragosto, quem falou em seguida foi Jacqueline Ross, indicada pela irmã. A primeira coisa que ela fez questão de falar foi de sua profissão de modelo, provavelmente para exaltar que era bonita. E qualquer pessoa que admirasse Joanne teria que concordar, já que as duas tinham características físicas bem semelhantes. Uma coisa que era evidente e ela nem precisou dizer é que era alguns anos mais velha que Joanne. Relutante, resolveu dizer a todos que seu pai, dono de uma indústria automobilística, não aprovava muito sua profissão de modelo, mas isso nunca fora um empecilho para Jacqueline, que começou nesta profissão aos 17 anos.

Após a moça, foi a vez de Luis Filipe. Luis Filipe Torres - um homem moreno de uns 25 anos - começou contando que era português e que trabalhava como piloto comercial. Falou sobre seu treinamento aos 18 anos, sua paixão por aviões desde pequeno e de sua mãe, com quem morava em Portugal. Na noite em que fora teletransportado estava em Scacci somente de passagem. Um amigo seu, piloto, teve que ser substituído e Luis foi escalado para fazer, no lugar dele, o trajeto que partia de Lisboa. Como o aeroporto de destino era em Scacci e já estava de noite, Luis se hospedou lá. Somente na manhã seguinte ele voltaria para Portugal.

E suas últimas falas foram sobre como ele perdeu o vôo de volta á capital de Portugal por ter acordado não na sua cama, mas sim naquela cidade onde cada coisa parece mais estranha que a outra.

A historia de quem todos ouviam agora era de Johann Bohr. Dos treze, ele era o mais conhecido entre eles, por ser músico e ter aparecido algumas vezes na televisão.

O dinamarquês loiro de meia-idade, então, começou a contar sobre sua ascensão profissional. Aos 46 anos ele havia se mudado para Scacci e, graças a um amigo, começou a se interessar pela música, especialmente pelo saxofone. Quatro anos depois, Johann e mais cinco pessoas formaram o At Night, banda de Blues que se apresenta todas as noites em diferentes pubs. No final, ele ainda contou que estava interessado em uma mulher, mas pelo timbre de sua voz, pareceu que somente estava lembrando-se dela para si mesmo.

Samantha foi a próxima. A julgar pelo seu corpo, seus belos cabelos castanhos e olhos claros, muitos poderiam apostar que ela era modelo, como Jacqueline. A moça, entretanto, era arqueóloga e lutava em prol das causas ambientais.

No início ela falou a respeito de seu passado e sua infância no Canadá ao lado de sua mãe e seu irmão, operário de uma fábrica siderúrgica. Depois contou que assim que se graduou em Arqueologia, passou a viajar pelo mundo explorando fósseis.

Recentemente pesquisadores haviam encontrado um sítio arqueológico bem intrigante e, para vê-lo de perto, Samantha fora até lá. Como precisaria pesquisá-lo durante vários dias, resolveu hospedar-se na cidade mais próxima: Scacci.

E, por fim, revelou, meio envergonhada, que ao ser teletransportada não estava dormindo, havia acabado de voltar de um encontro mal-sucedido.

Quando Samantha terminou, cada um estava esperando que outra pessoa falasse agora. Foi aí que um dos homens se dispôs a dizer mais acerca de sua vida. E, como ninguém esperava que uma pessoa tão indolente se manifestasse naquele momento, todos olharam para ele espantados.

Mesmo assim, Gary não se intimidou, e começou a contar sua história.

(Continua...)


Próximo capítulo: Domingo, 28 de outubro

2 comentários:

Tifon disse...

Gostei desta parte especialmente, porque assim conhecemos finalmente "quem é quem"....

Quem será o assassino perverso...?

Estou a morrer de curiosidade...!

;)

Espero saber em breve

Luiz Fernando Teodosio disse...

O que esse Gary vai falar? Cap bom. Deu pra conhecer alguns personagens.