domingo, 2 de setembro de 2007

Capítulo 15 - Inodoro, Insípido e Incolor

O hidróxido de hidrogênio, vulgarmente conhecido como água, é um líquido incolor indispensável a qualquer ser vivo. Ela cobre três quartos do globo e foi o suposto habitat dos primeiros seres terrestres.

Ao descobrirem um novo planeta, os astrônomos freqüentemente procuram água em sua superfície, para definir se ali pode haver ou ter havido alguma forma de vida. O composto é formado de hidrogênio e oxigênio, que se ligam por pontes de hidrogênio, e tem propriedades químico-físicas bastante peculiares.

O chamado ingrediente essencial da vida, por exemplo, é um bom solvente, possui um calor específico estranhamente alto e é fundamental na regulação do clima global. Além disso, tem uma anômala dilatação: ela se contrai com a queda de temperatura, mas, a partir de quatro graus Celsius, ela se expande, voltando a se contrair depois de se solidificar.

O consumo de água também se tornou exageradamente elevado nos últimos tempos. Enquanto há aproximadamente dois mil anos, as pessoas consumiam doze litros de água por dia, o homem moderno chega a consumir cerca de oitocentos litros diários.

Mesmo no setor industrial os números são bastante atípicos. Para se produzir uma tonelada de aço, se usa aproximadamente 250 mil litros do líquido. Nada comparado, porém, à quantidade de água utilizada na fabricação da mesma quantidade de borracha: dois milhões e 750 mil litros.

Enquanto uma imensa quantidade dessa substância vem sendo utilizada ao redor do mundo, em uma curiosa cidade quinze pessoas começam a se preocupar por não acharem nenhum lugar onde há uma mina de água.

No entanto, eles tinham problemas maiores para se preocuparem no momento.

* * *

- Mais uma?! - surpreendeu-se Samantha, quando Jacques comunicou a todos que outra peça havia sumido do tabuleiro de xadrez.

- Sim, um peão. - confirmou o físico - se você contar, verá que agora só há vinte e nove peças.

- Três peças a menos que em um jogo comum...

- Como em um jogo comum em curso, na verdade. - observou Gary.

- O que você quis dizer com isso? - questionou o marido de Lisa.

- O que eu quero dizer é algo que provavelmente já passou pela cabeça de todos e ninguém tem coragem de admitir: há uma partida de xadrez sendo jogada.

A reação das pessoas foi a mesma: fazer menção de que nunca haviam pensado nessa possibilidade, embora, em alguns casos, isso não fosse verdade.

Já Gary Olsen gostou da sensação de aparentar ter uma explicação para tudo o que estava acontecendo por ali.

- Como assim, Gary? - perguntou Joanne, confusa.

- Ora, - respondeu o homem - não seja tola garota! Você sabe, é como se duas pessoas estivessem jogando xadrez. Quando algumas peças se movem e algumas somem, significa que estas foram “comidas”, ou seja, retiradas do jogo. Analisando a posição do rei preto e da rainha branca, eu diria que...

- Essas duas peças, sozinhas, foram as que eliminaram as outras três.

Os olhos de alguns se viraram para Edwin, por ele haver completado a fala de Gary e, certamente, o desagradado. Outras pessoas mantinham seu olhar no outro, esperando alguma reação. No entanto, o professor de Oceanografia simplesmente assentiu com a cabeça.

Para romper o silêncio, Davis resolveu levantar uma questão.

- Mas como alguém está jogando com essas peças se é impossível mover qualquer parte da estátua?

- Boa pergunta. - Susan limitou-se a falar.

- Sim, uma boa pergunta sem uma boa resposta! - continuou Davis. - E mais, quem está jogando essa partida de xadrez?

- Talvez seja o Kan.

- Quem é Kan, Melina? - questionou Johann.

- O Kan, oras! O assassino! Não se lembram do que disse aquele tal de Willard antes de morrer? “Cuidado com o Kan...”!

Todos se lembravam da cena, mas nunca haviam dado muita importância para quem era o chamado Kan. Entretanto, se este fosse o homicida, ele parecia estar dando muita importância para os quinze.

Gary e mais alguns ficaram por um tempo analisando as jogadas feitas no jogo, mas nada descobriram além do que já haviam deduzido. Três peões - dois brancos e um preto - haviam desaparecido; e, aparentemente, a culpa havia sido de uma rainha alva e um rei negro.

O fato mais estranho do dia, porém, ainda estava para acontecer. Foi às quatro horas da tarde. Todos ainda estavam na praça, tentando evitar ao máximo o momento de voltar àquele restaurante tão abafado. Dessa vez, ninguém se distanciou do grupo, as quinze pessoas estavam unidas.

Nicholas esteve observando as jogadas no xadrez durante um tempo e, agora, examinava minuciosamente cada detalhe da estátua juntamente com Samantha, que era arqueóloga. Ele observava a base da estátua, quando percebeu uma parte de terra escura perto do monumento. Ele pegou-a com a mão e fez uma cara de indignação e surpresa. Se fosse o que estava pensando, o principal problema deles seria resolvido.

Entusiasmado, comunicou a todos sua descoberta e lhes pediu que o ajudasse a mover a estátua. Os homens - exceto Gary que ficara de mau humor - e até algumas mulheres se posicionaram frente à imagem e começaram a empurrá-la.

Surpreendentemente, foi mais fácil do que eles pensavam. Ela não era leve, mas eles não tiveram que fazer muito esforço para tirá-la do lugar.

Logo a estátua estava recuada um metro e as teorias de Nicholas se confirmaram. Embaixo de onde o monumento estava havia o que eles estiveram procurando: água.

Não eram garrafas de 250ml, era um pequeno buraco na terra da qual o líquido jorrava incessantemente.

O ex-policial não imaginava que encontraria essa curiosa fonte, mas suspeitou que houvesse água embaixo da estátua pela terra em sua base estar úmida.

Ninguém sabia ao certo se a fonte só jorrava durante um certo período do dia, ou se era o dia todo, de qualquer forma não quiseram perder tempo. O fato de não fazerem a mínima idéia do que a água estava fazendo ali e de onde ela vinha não importava para eles. Fazia dois dias e meio que eles só tomavam vinho e a única coisa em que todos pensavam era em desfrutar daquela água o mais rápido possível.

E, um a um, eles bebiam goles e goles de uma só vez.

Entretanto, apesar de um dos problemas haver acabado de ser resolvido, outro estava prestes a surgir.

(Continua...)


Próximo capítulo: Domingo, 09 de setembro