domingo, 23 de setembro de 2007

Capítulo 18 - Perseguição, parte I

Atualmente muito vale em um currículo ter graduação no Ensino Superior. Mesmo assim, todos os dias centenas de pessoas abandonam a faculdade ou trocam de curso.

Uma dessas pessoas foi William Henry Gates III, mais conhecido como Bill Gates, que saiu da universidade em 1977 para se dedicar ao projeto que viria a ser mais tarde a Microsoft, maior e mais renomada empresa de software existente.

E assim foi também com Melina. Aos dezenove anos, a moça, nascida em Buenos Aires cursou a faculdade de Turismo no país, sonhando um dia poder viajar pelo mundo.

O que ocorreu, porém, é que, após um ano e meio, ela percebeu que não era aquilo o que queria. Tinha outras vontades e sonhos para seguir. Melina, entretanto, talvez por medo ou insegurança, aguardou ansiosa durante mais dois anos e meio para concluir o curso.

Felizmente seu diploma foi-lhe útil para conseguir um emprego em uma companhia aérea. Mas como a moça logo conseguiu outro trabalho, ela não durou muito no ramo turístico. Esse outro trabalho era em uma empresa multinacional irlandesa, com filial por todos os cantos do mundo.

O cargo oferecido à Melina era como secretária executiva; sem dúvida por causa de sua aptidão natural como organizadora e administradora.

Como não havia nenhuma filial na Argentina, Melina teve que se mudar para outra cidade. A mesma de onde vinham Jacques, Nicholas, Davis, Samantha, Anthony, Joanne, Jaqueline, Gary, Johann, Susan, Edwin e Lin antes de serem inexplicavelmente teletransportados para outra cidade ainda mais sombria.

E era nesse curioso lugar que aquelas treze pessoas, de tão imóveis, pareciam dormir.

* * *

Quer dizer que um de nós é o assassino.

Essa frase, dita por Gary, não saia da cabeça de quem tentava adormecer dentro daquele restaurante. Apesar de ser apenas uma hipótese, sem prova alguma, se o assassino estivesse infiltrado entre eles isso provavelmente significaria a morte de todos, um por um; e sem possibilidade de fuga.

A cada fato incomum que ocorria, aquelas pessoas ficavam cada vez mais desesperadas. Era o que estava acontecendo com Nicholas.

Apesar de ele tentar disfarçar, a única coisa em que conseguia pensar era em como era infeliz. Além de perder a esposa, estava distante dos filhos e sem a possibilidade de consolá-los por um acontecimento do qual eles nem tinham conhecimento.

O que ele imaginava era que a sua vida desmoronada não poderia piorar ainda mais.

Diferentemente de Nicholas, Melina não tinha filhos, mas, mesmo assim, a qualquer hora poderia estar beirando a insanidade. Desde o começo ela não queria confiar em nenhum deles, mas agora estava ainda mais assustada; todas as doze pessoas com quem ela compartilhava aquele restaurante finlandês agora eram suspeitas de pelo menos três assassinatos à sangue frio.

E, se ninguém fizesse algo, onze daquelas pessoas iriam ver o brilho da foice ostentada pela morte. Contudo, ela não iria ficar lá parada, precisava fugir, se esconder. E não haveria hora mais propicia do que aquela, quando todos, provavelmente o assassino também, aparentavam estar dormindo.

Enquanto se levantava silenciosamente da mesa em que estava deitada, ela refletia sobre os riscos que estaria correndo; o maior risco mesmo, pensava ela como consolo, seria ficar aqui e conviver com o assassino.

Enquanto caminhava em direção à porta, Melina não imaginava o erro que cometeu ao imaginar que todos estavam dormindo. De fato, a maioria estava sonolenta e, por isso, não a ouviu sair, mas havia uma pessoa que estava bem desperta; ainda, para infortúnio da moça de Buenos Aires, esse alguém estava planejando segui-la no instante em que ela saísse pela porta do restaurante.

E foi o que aconteceu.

Assim que Melina cruzou a porta, fechando-a atrás de si, uma pessoa se levantou sem fazer nenhum ruído e se preparou para ir atrás daquela que seria sua vítima.


* * *

Melina caminhava pelas ruas escuras daquela cidade com o único objetivo de se distanciar do restaurante. Aflita, corria pelas alamedas cinzentas iluminadas apenas pelo luar, mas não sabia o porquê. Talvez por seu instinto ter-lhe alertado que alguns metros atrás estava uma pessoa com uma pistola 6 milímetros na mão e prestes a cumprir seu intento.

A jovem argentina era muito bonita. Mesmo sem a luz do sol para realçar seus traços, ela tinha uma inegável graciosidade. Todavia, nunca passou pela cabeça da pessoa homicida tirar proveito nisso; não, isso seria absurdo!, pensava.

Seu único objetivo era matá-la. E isso sabia fazer perfeitamente bem.

Sua missão tinha que ser cumprida e ela iria ser. Agora.

Dois tiros foram então disparados, cortando o mudo silêncio da noite.

Melina cambaleou um pouco, estava atordoada. No entanto, assim que se recuperou do susto, voltou a correr, agora ainda mais rápido. As duas balas haviam passado bem próximas à sua cabeça, mas, por sorte, não a haviam atingido.

Sem parar sua corrida desenfreada, ela olhou para trás e viu que havia alguém a perseguindo. Imediatamente, reconheceu quem era.

No começo, ficou um pouco chocada de saber, mas logo sua cabeça parecia não funcionar mais; a única ordem dada ao seu corpo era uma só: corra!

E foi o que Melina fez, durante muito tempo.

Até que ela, exausta, sem encontrar a saída da cidade, resolveu se esconder.

Ao virar uma esquina, a moça se dirigiu rapidamente para uma casa e tentou abrir a porta para entrar. Todavia, foi sem sucesso: a porta estava trancada.

Aquele alguém que portava uma pistola estava cada mais próximo e não havia lugar onde Melina pudesse se esconder.

Foi quando ela ouviu outro tiro.

(Continua...)


Segunda parte: Domingo, 30 de setembro