Thomas Hobbes - matemático e filósofo - disse, no seu leito de morte, que estava “prestes a iniciar sua última viagem, um salto terrível no escuro”. Willard Tye também estava a ponto de dar esse salto. Assim que fora baleado, olhou para o seu assassino antes de sair correndo, em busca de ajuda. Sabia onde encontraria assistência, mas o chumbo da bala penetrava nos seus órgãos e o atordoava; ele já não tinha mais noção de onde estava indo.
Não estava preparado para isso, achou que já estava seguro, depois de tanto tempo. Contudo, estava enganado. Correu o máximo que pôde, com esperança de sobreviver àquele ataque surpresa, mas percebeu que estava indo na direção errada quando avistou a praça. Para a sua surpresa, também havia quinze pessoas paradas no centro dela, vislumbrando a estátua. Então ela estava certa, pensou.
O salto de Willard em direção às brumas do desconhecido estava prestes a ser dado. Agoniado e sem fôlego, ele caiu no chão. Já não sentia seus membros e a única imagem que enxergava era um ponto luminoso distante que se aproximava. Quando se virou, viu que as pessoas que antes olhavam a estátua agora se reuniam ao redor dele. Ele sabia que estava na hora.
Não podia morrer sem avisá-los. Em uma tentativa desesperada de esforço, Willard sussurrou:
- Cuidado com o Kan...
E essas foram as últimas palavras que Willard Tye conseguiu pronunciar antes de morrer.
- Ele... - sussurrou Joanne.
- Está morto. - confirmou Davis, que estava agachado auscultando os batimentos cardíacos do, agora, cadáver.
- O que ele disse? - perguntou uma moça um pouco mais velha que Joanne que pela semelhança física com esta, aparentava ser sua irmã.
- Disse "cuidado com o Kan". - falou Nicholas, que também estava perto de Willard.
- Quem é Kan?
Jacques esperou uma resposta à sua indagação, mas essa dúvida parecia atormentar o pensamento de todos.
- Quer dizer que... tem mais alguém aqui?
- Aparentemente sim.
- E está armado.
Após essa última frase ter sido proferida, todos procuraram quem a havia dito, já que a voz da pessoa parecia distante. Fora um homem. Um homem moreno com olhos azuis que não fazia parte do grupo dos quinze.
- Quem é você? - perguntou Joanne.
- Gary, e estou na mesma situação que vocês. Também cheguei há pouco aqui.
- E como você sabe que o assassino desse homem está armado? - questionou Davis desconfiado, apontando para Willard.
- Eu vi quando ele chegou correndo. Virem-no de costas e verão que estou certo.
Nicholas e um outro homem do grupo chamado Anthony viraram o morto de costas e viram o ferimento. Uma bala estava cravada na sua medula espinhal e sua camisa permanecia manchada do vermelho do sangue.
- Como será o nome dele? - perguntou Samantha.
Nicholas procurou alguma identidade nos bolsos de Willard, mas não achou nada. Deu de ombros e falou:
- Não dá pra saber... Sabe o nome dele, Gary?
- Ei, alto lá! - retrucou Gary, que já havia se aproximado do grupo - quem você acha que eu sou? Eu o vi chegando e só! Você não me ouviu dizendo que eu cheguei há algumas horas, como vocês?
- Onde estava esse tempo todo, então? - indagou o saxofonista Johann.
- Explorando, por aí.
- Você ouviu o tiro que matou esse homem?
- Não, ele não ouviu. - respondeu Edwin, um arquiteto que estava entre eles. - A arma tinha um silenciador.
Quando todos se viraram para Edwin, viram que ele havia retirado a bala das costas de Willard e estava segurando-a na altura dos olhos.
- Antes que perguntem, eu sei por causa dessa marca horizontal e fina na bala - completou. - só um silenciador faria isso. Aliás, pelo formato da bala, era uma pistola
- Você entende bastante de armas, não é?
- Bom, Davis, eu servi o exército por seis anos.
Após a resposta de Edwin, todos ficaram menos receosos com relação ao arquiteto, mas o medo de que um assassino estivesse à solta não os acalmava. Ninguém confiava em ninguém, exceto, talvez, as duas irmãs, mas todos sabiam que se alguém, por ventura, tentasse lhes matar, teriam que se unir.
O aparecimento de um homem que não pertencia ao grupo e o fato haver de um assassino escondido em qualquer canto da cidade, levantava muitas dúvidas. A principal delas era: estavam mesmo sozinhos?
(Continua...)
Próximo capítulo: Domingo, 08 de julho