domingo, 20 de maio de 2007

Capítulo 2 - Sol a Norte?

Tudo estava muito calmo naquela noite até aquela casa explodir. Davis lutava contra o fato de que tudo que era seu havia ido pelos ares e tentava acreditar que era somente mais um pesadelo. Mas não era.

Após a explosão uma estranha luminosidade atingiu-o nos olhos e ele mal conseguia ver o que estava a sua frente. Quando recuperou sua visão, não conseguiu reconhecer nada que estava a seu redor. Ele olhava desesperadamente para todos os lados para ver se reconhecia alguma casa ou algum lugar familiar, mas foi em vão.

A única coisa que acalmou, ou, talvez, aumentou seu desespero foi ouvir uma voz ao longe que disse:

- É inútil, você não está onde pensa estar...

A voz pertencia à um homem de quase 50 anos e que caminhava vagarosamente em direção à Davis. Estranhando a circunstância em que aquele homem aparecera e o seu sotaque francês, Davis perguntou:

- Ei, quem é você? Para onde você me trouxe?

O francês riu.

- Eu não te trouxe a lugar nenhum, criança, foi uma força fantástica e extraordinária!

- Do que está falando?

- Ora, acha mesmo que está na cidade em que mora? Olhe em volta! Essas casas, as colinas adiante no horizonte, as árvores retorcidas...

- Mas...

- Quer uma prova definitiva? Veja a minha bússola.

Davis pegou o artefato na mão estendida do homem e girou-a até ela apontar para o Norte.

- Certo. Agora, olhe para o Sol, em que direção ele está nascendo?

Àquela hora o Sol já estava começando a nascer e o céu já estava adquirindo um tom alaranjado enquanto a Lua se distanciava.

- Leste, é claro! O Sol sempre nasce a Leste... - respondeu Davis.

- Olhe para a bússola, menino. Em que direção o Astro-Rei nasce?

Davis olhou, e quando o fez, se assustou - não pela primeira vez - naquele dia.

- No... Norte?!

O francês deu um leve sorriso.

- Sim, aqui o Sol nasce ao Norte. Alguma coisa muito estranha acontec...

- Ei, olhe aqui seu francês, - gritou - minha casa acaba de ser explodida, eu estou perdido em um lugar que eu não conheço e eu nem faço idéia de como eu cheguei aqui! Melhor o senhor parar com essas brincadeiras com bússolas quebradas! Aliás, como é o seu nome?

- Jacques. Jacques Chevalier, muito prazer. - disse calmamente - e, não, a bússola não está quebrada.

- Humpf! - resmungou Davis.

Apesar de seu gênio forte, Davis não costumava ser assim. No entanto, a visão de sua casa explodindo ainda o perturbava e ele pensava incessantemente em um jeito de recuperá-la.

- Sabe, - começou Jacques - eu sou físico e costumo ser muito cético em relação à esses fenômenos inexplicáveis, mas dessa vez eu tenho que reconhecer que algo muito estranho aconteceu... Venha, vamos sair da Rua do Silício.

- Rua do que? De quem?

- Olhe, vamos indo, no caminho eu te explico...

E Davis, sem saber o que fazer, resolveu seguir Jacques. Afinal, assim, talvez pudesse conseguir algumas respostas.

***

Para se ir de uma extremidade à outra da Rua do Silício era preciso andar um pouco mais de dois quilômetros. Foi por isso que quando Davis e Jacques estavam no extremo Norte da rua, não viram uma moça que estava no extremo lado oposto, no Sul.

Seu nome era Samantha. Os olhos verdes eram o que mais chamavam a atenção nela, mas naquele momento a única coisa que eles refletiam era pânico. Ela estava dormindo quando, do nada, havia acordado no meio de uma rua que não conhecia.

Batera na porta de algumas pessoas, mas ninguém parecia ter ouvido. Gritou o quanto podia, mas foi em vão.

Agora caminhava pela rua à procura de alguém que pudesse lhe ajudar.

Mal sabia ela que um jovem moço e um físico francês estavam indo, inconscientemente, ao seu encontro.

***

Davis e Jacques Chevalier andavam silenciosamente pela rua. De súbito o silêncio foi quebrado por uma pergunta do rapaz.

- Ei senhor... Jacques, não é?

- É.

- Será que você sabe...

Mas não chegou a concluir a frase, pois se assustou com a parada repentina do francês. Olhou para frente assustado e viu uma jovem se aproximando com passos arrastados. Aparentemente estava desesperada, mas Davis imaginou que talvez ela fosse uma pessoa muito bela, afinal.

- Ah, graças a Deus! - exclamou ela, quando viu os dois.

- Ei, minha cara, quem é você? - perguntou Jacques - será mais uma vítima do acontecimento sobrenatural de hoje?

- Ah, deixa disso, francês! - disse Davis - Oi, moça, você está bem?

- Eu não... - ela começou a dizer.

E desmaiou.