quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Capítulo 30 - A Vitoriosa

Sem perceber que uma pessoa havia acabado de adentrar sorrateiramente pelas portas de vidro da confeitaria, Jacqueline verificava ansiosa as horas em seu relógio.

Passados dez minutos, ela viu que chegara a hora tão esperada. Olhando para os lados ao se levantar, para averiguar se ninguém a estava observando, ela buscou a irmã com os olhos. Lá estava ela, conversando com Susan e Samantha.

Certa de que ninguém prestava atenção nela, correu em direção ao banheiro, sem pensar duas vezes.

Assim que abriu a porta, abriu um leve sorriso ao ver que ele já estava lá.

- Não podemos nos demorar! - alertou Jacqueline.

- Eu sei. - disse o homem de cabelos negros e olhos azuis, parecendo um pouco exausto.

- Onde esteve? - ela perguntou desconfiada.

- Por aí. - respondeu Gary.

O cômodo em que os dois se encontravam era, na verdade, um cubículo. Por isso eles acabavam ficando um tanto desconfortáveis, exprimidos um contra o outro graças ao vaso sanitário, a pia e o pequeno local reservado ao box. No espaço que restava para Gary se encontrar às escondidas com a irmã de Joanne só caberiam duas pessoas se elas realmente quisessem estar juntas.

- Você não contou nada para sua irmã sobre nós, não é? - indagou o homem.

- Claro que não!

- Hum, ótimo - foi sua única palavra.

Não sabia o que conversar com Jacqueline; nunca soube começar um assunto que não fosse oceanografia.

Também não lhe interessava se a moça estava preocupada ou queria desabafar, a única coisa que importava a Gary era o desejo que sempre sentira por aquela mulher. Se ela parecia antipática e rude ele não estava nem aí, porque a sós com ele, Jacqueline era atraente, sedutora.

De tão próximo da moça que estava, ele nem se esforçou para colocar os braços nos loiros cabelos dela e beijar-lhe.

Jacqueline retribuiu com fulgor. Também não se importava com o caráter daquele que tanto desejava.

E continuaram no que parecia um gesto de paixão durante horas, ou minutos, não sabiam ao certo.

Foi quando um barulho os interrompeu. Uma batida na porta.

- Jackie? É você que está aí? - perguntou Joanne do outro lado.

Jacqueline gelou. A última pessoa que poderia descobrir seu romance era sua irmã.

Ela olhou para Gary pedido ajuda, mas este igualmente não sabia o que fazer.

- Jacqueline? - voltou a perguntar Joanne.

- S-Sim, s-sou eu - respondeu a moça apreensiva.

- Ah, que bom - disse Joanne. - Cheguei a pensar que fosse Gary, faz horas que não o vejo.

Gary engoliu em seco e Jacqueline permaneceu calada.

- Então... - continuou Joanne, estranhando o silêncio da irmã - Você vai demorar?

- Vou... vou, sim. Eu... eu... banho! Vou tomar um banho.

- Mas você não tomou um poucas horas atrás?

- É, tomei, mas... ah, Joanne, não enche, vai! Não tenho culpa se só tem um banheiro aqui...

Na verdade, Jacqueline não sentia raiva pela irmã por ela estar desconfiada ou por querer usar o banheiro. Sua irritação maior era por ter sido interrompida e ela aumentou ainda mais sua exaltação para parecer bem convincente ao expulsar Joanne.

- Tudo bem, então - disse Joanne em resposta, ligeiramente desapontada.

Assim que ouviu o som de passos se distanciando, Gary, que estava o mais próximo possível de Jacqueline, notou que o coração dela batia acelerado.

- O que faremos agora? - ela perguntou.

- Simples - disse, se afastando um pouco para poder encarar os olhos da moça. – Primeiro abra o chuveiro, para parecer que você está tomando banho. Espere alguns minutos e então, você sai. Depois, quando ninguém estiver olhando, você bate duas vezes na porta e eu saio.

- Mas e se alguém quiser entrar no banheiro assim que eu sair?

- Bom - respondeu Gary, - teremos que contar com a sorte.

Assentindo nervosa, Jacqueline foi até o box e abriu a torneira. A água do chuveiro começou a jorrar e a molhar o piso, enquanto ela se voltava para Gary. Cinco minutos depois, a moça, temerosa, virou-se em direção a porta, preparando-se para sair. Antes, porém, ela deu meia volta e beijou o homem uma última vez.

Logo após, abriu cautelosamente a porta do banheiro e, assumindo sua expressão de indiferença, fechou a porta atrás dela.

Jaqueline olhou ao redor e avistou três pessoas em cujo campo de visão estava o banheiro.

Passado alguns minutos, uma das pessoas saiu. Depois outra. E, finalmente, o último que poderia ver a porta do banheiro se abrindo levantou-se e foi para outro lugar.

O mais rápido que pôde, Jacqueline se apressou até a onde Gary ainda esperava e bateu na porta duas vezes.

No entanto, antes que visse a porta abrir ela foi surpreendida pela chegada de Davis.

- Ei, olá Jacqueline. - cumprimentou ele.

Ela simplesmente acenou com a cabeça, como normalmente fazia, e rezou para conseguir inventar uma desculpa e impedir Davis de entrar no banheiro.

Contudo, era tarde demais: assim que ele pôs a mão na maçaneta, a porta foi aberta, só que pelo lado de dentro. Quando deu de cara com Gary olhando assustado para ele, Davis estranhou a situação, mas logo percebeu do que se tratava.

- Ãh, sua irmã disse que era você que estava no banho, Jacqueline - disse Davis.

- É... é... - respondeu ela - Mas foi só um banho rápido.

- E quando eu a vi sair eu logo entrei - acrescentou Gary.

Davis pareceu desconfiado, porém ao mesmo tempo estava se divertindo.

- Engraçado, Gary. Se você entrou no banheiro há pouco, onde esteve esse tempo todo? Joanne disse que não te achou na confeitaria inteira.

- É que eu estava... estava... mas o que ela queria comigo afinal?! - desvencilhou.

Davis deu de ombros.

- Não sei, vá lá e pergunte para ela. Só antes limpe essa marca vermelha em seu pescoço, que está parecendo muito com um batom.

Apesar das inúteis tentativas gestuais de Jaqueline para alertá-lo, Gary pareceu sobressaltado e passou a mão freneticamente pelo pescoço. Quando viu que era mentira e que havia caído direitinho na cilada, permaneceu calado.

Davis, sem tirar o sorriso do rosto, entrou no banheiro e fechou a porta.

Os dois, então, ficaram à porta do banheiro. Ela olhando com reprovação para Gary e este se odiando por não desconfiar logo da armadilha.

Já que não queriam levantar a suspeita de ninguém como haviam feito com Joanne e Davis, eles se afastaram.

Enquanto Jacqueline procurava a irmã para continuar a aborrecê-la com suas reclamações, Gary buscava algum canto em que pudesse ficar isolado. O pensamento de ambos, no entanto, era o mesmo: em como aquela tarde havia sido maravilhosa.

* * *

Era quase meia-noite. Kaninchen estava mais nervoso do que nunca, no entanto sabia que precisava cumprir seu dever. Naquela noite, sua abordagem seria diferente. Faria com outra pessoa o mesmo que havia feito com Johann, mas, para isso, precisava da ajuda de uma curiosa substância. Andou cautelosamente até a seção de pacotes com saches de chá, uma das menos visitadas.

Retirou alguns pacotes da frente e depositou-os no chão para pegar o que havia lá no fundo. Kaninchen esticou a mão para agarrar o pequeno vidrinho e pôde vislumbrar um líquido incolor e anestésico dentro dele.

Tirou um pano do bolso, abriu o vidro e, tampando a respiração, aplicou algumas gotas de clorofórmio no tecido.

Kan recolocou o vidrinho no lugar e, na frente dele, vários pacotes de chá.

Dirigiu-se, então, à sua vítima. Assim que a viu, percebeu que seria mais difícil do que pensara, pois ela dormia bem próxima a alguém.

Torceu para que Joanne tivesse um sono pesado e não acordasse com o barulho que sua irmã poderia fazer e, em um só gesto, passou a mão em volta do pescoço de Jacqueline e pressionou o pano embebido em clorofórmio contra o nariz dela.

A modelo acordou de súbito e até tentou reagir debilmente; entretanto, segundos depois, ela estava desacordada mais uma vez.

Não vendo outra solução, Kaninchen pegou Jaqueline no colo e a carregou-a até a entrada da confeitaria. Depois que passou a ser iluminado pelo luar, Kan largou a moça no chão e levou-a até a casa onde Wert sempre aguardava.

Ao escolher Jacqueline, havia considerado que ela, apesar de tudo, poderia ser corajosa o suficiente para cumprir as ordens que lhe seriam dadas e seria a menos suscitável de tentativas de defesa.

A primeira reação de Wert ao ver Kaninchen abrir a porta e entrar no cômodo carregando Jacqueline foi ficar boquiaberta.

- Uma mulher? Por quê? O que você...

Kaninchen fez um gesto para Wert calar-se e começou a amarrar Jacqueline na cadeira com uma corda que estava jogada ao chão.

Colocou também um pedaço de pano dentro da boca da moça, amordaçou-a e começou a dar-lhe leves batidas no rosto.

À medida que a irmã de Joanne recobrava a consciência, a dor de cabeça e a tontura que ela sentia, sintomas da inalação do clorofórmio, iam se intensificando. No momento em que Jacqueline abriu os olhos e viu Kaninchen à sua frente, sobressaltou-se. Você, ela pensou somente, impedida de falar pelo pano em sua boca.

- Kani, não estou entendendo, por que a trouxe para cá? - perguntou Wert. - Ela é uma garota mimada e idiota, devia tê-la matado de uma vez.

- Não! - discordou Kaninchen em resposta. - Ela será nossa chance de recuperar o diário.

- Como?

Kaninchen não respondeu. Olhou para sua refém, encarando-a.

- Jacqueline... - começou - O que significa seu nome? Aquela que vence, em francês, não estou certo? Bem, se você quiser vencer dessa vez terá que me ouvir com atenção porque falarei uma vez só. Sabe, eu não vou fazer com você o que eu faço com os outros. Com você vai ser diferente.

Tanto Wert quanto Jacqueline mantinham seus olhares desconfiados postos em Kaninchen.

- Eu sei que você tem uma irmã, portanto lhe darei a chance de revê-la. Somente uma chance! E se você falhar...

Kan pegou seu revólver, apontou para Jacqueline e puxou o gatilho. O tiro certamente teria atingido o meio da fronte da moça, se a arma não estivesse descarregada.

- Kan - começou Wert - eu ainda não entendo...

Shiu!, fez em resposta e se dirigiu à Jaqueline novamente.

- É o seguinte, há algumas tarefas que eu precisava cumprir, no entanto temo que não poderei. O grupo ao qual você pertencia está começando a arquitetar um plano e, em breve, vai ficar ainda mais difícil de eu deixar a confeitaria, mesmo à noite.

Kaninchen fez uma pausa e logo em seguida continuou.

- Quem fará essas tarefas para mim, portanto, será você, minha querida.

A modelo lacrimejava e Wert fazia menção de que estava prestes a protestar. Contudo, ninguém falou.

- Serão três as tarefas que lhe darei. Se cumprir todas com êxito, lhe soltarei e você será livre para ir aonde quiser. Agora, se falhar em alguma ou tentar fugir, eu lhe caçarei até a morte! - concluiu, pontuando a última sílaba com um tom ainda mais ameaçador.

Wert chamou Kaninchen de lado e murmurou com irritação, apontando para Jacqueline:

- Por acaso ela faz parte do seu plano genial?

- Claro! Será ela quem resgatará a chave e o diário para nós.

- Ah, então é isso?! - riu. - Oh, que brilhante que você é! - completou com sarcasmo.

- Sim, é mais ou menos isso - respondeu, não dando a mínima para a revolta de Wert. - Já te disse, em breve eu não vou poder mais sair da confeitaria toda noite e eu preciso que alguém faça o trabalho por mim...

- E por que não eu?!

- Ora, em primeiro lugar você não pode ficar perdendo tempo com isso. E, em segundo, se ela for descoberta, não verão nela a cara de uma assassina, mas a de uma pobre refém que está sendo subjugada.

A calma com que Kaninchen sussurrava era espantosa para Wert. No entanto, evitando fazer mais perguntas, temendo acabar com a tranqüilidade de Kan, Wert simplesmente abaixou a cabeça e permaneceu escutando.

- É o seguinte, quem vai vigiá-la será você. Talvez eu não volte aqui por muito tempo - alertou Kaninchen. - Portanto, vamos lá no quarto de cima que lhe direi exatamente o que mandará a modelo fazer.

- Mas e se ela se recusar a cumprir minhas ordens?

- Bem, se ela insistir em não lhe obedecer - respondeu -, mate-a.

E enquanto os dois subiam as escadas, Jacqueline afundava cada vez mais em suas próprias reminiscências, imaginando se veria novamente o rosto da irmã.

(Continua...)


Próximo capítulo: Domingo, 02 de dezembro

domingo, 25 de novembro de 2007

Capítulo 29 - O Furto

Na tarde do dia em que Lin havia sido morta, as nove pessoas notaram seu sumiço logo que estavam retornando da praça.

- Onde está a Lin? Algum de vocês a viu? - questionou alguém.

Todos balançaram a cabeça negativamente. Um deles porém estava mentindo: Kaninchen. Fora Kaninchen quem havia posto a chinesa sob a mira de sua arma e entregue-a a Wert há poucos minutos. Para sua sorte, porém, ninguém havia notado nem ouvido nada.

Enquanto isso, os outros indagavam para si como Lin havia desaparecido sem nenhuma pessoa perceber e tentavam não demonstrar seu medo. Era claro agora que mesmo em plena luz do dia, Kaninchen estava pondo seu plano de assassinato em prática.

Apreensivos, resolveram então ficar reunidos para evitar um outro ataque. Sabendo que era inútil tentar salvar Lin, já que nem mesmo sabiam onde ela estava, decidiram-se por ficar à porta da confeitaria, os nove.

De imediato, o esquema pareceu uma boa idéia - que poderia não dar certo somente se, por exemplo, Kaninchen resolvesse sacar um revólver e atirar em todos -, no entanto conforme as horas iam passando eles pareceram preferir pôr sua vida em risco a ficar todos juntos.

Como de costume, Jacqueline e Gary permaneciam calados; Anthony e Susan conversavam entre si, tal qual Davis e Samantha; Edwin, por vezes, se virava para falar com Joanne e Jacques, na maioria do tempo, estava absorto em seus pensamentos.

De dezessete pessoas, somente nove haviam restado. E, se dependesse de Kaninchen, esse número só tendia a diminuir...

Já que o plano de ficarem agrupados não teve muito sucesso, a única condição que impuseram para se espalhar pela confeitaria foi de cada um observar constantemente os gestos da pessoa que estivesse em seu campo de visão e, caso alguma atitude parecesse suspeita, deveria, então, gritar para os outros.

O fato de Kaninchen estar entre eles, ouvindo todo o esquema, era, no mínimo, irônico. Se Kan sabia qual era o plano, obviamente, se desejasse matar alguém, não o faria conforme todos esperavam. Mesmo assim, era o único meio de eles tentarem deter a pessoa assassina.

Algumas horas depois de o Sol se pôr e as estrelas começarem a aparecer, ninguém se deu ao trabalho de idealizar um esquema para impedir outro assassinato. O único ato que fizeram foi dormir próximos um do outro. De qualquer forma, isso não impediu que Kaninchen saísse da confeitaria sem ser notado e se dirigisse a casa em que Wert e sua refém se encontravam.

Horas depois, Lin estava morta, estirada na rua de paralelepípedo.

* * *

No dia seguinte, ninguém se deu ao trabalho de procurar Lin. Nem imaginavam que ela estava a somente algumas quadras dali.

O que os levou até ela foi o leve tom avermelhado da água que havia rente ao meio-fio, descoberto por Joanne. Como havia chovido durante a madrugada, o sangue que escorria do corpo da chinesa havia se misturado à água que caia dos céus e fluía próxima à calçada.

Assim que dobraram a esquina e andaram alguns metros, viram a moça estirada no meio da rua e trataram logo de enterrá-la. Ao ir à praça, todos ficaram bem atentos nos que estavam ao seu redor para garantir que ninguém mais fosse capturado, pelo menos durante a manhã.

Quando se puseram a observar o tabuleiro de xadrez, um por um ficava boquiaberto conforme contava a quantidade de peças brancas.

Jacqueline até olhava freqüentemente para o local em que haviam enterrado Lin, como se esperasse que ela se levantasse a qualquer momento e dissesse que não estava morta afinal. Todavia, isso nunca aconteceria.

Mesmo um do grupo deles havendo sido morta, continuava havendo nove peças brancas em jogo. Por quê?, era o que eles se perguntavam.

Com relação às peças pretas, porém, mais uma torre havia desaparecido.

Foi Edwin quem se manifestou primeiro:

- Quem foi o primeiro a ver Lin?

- Acho que eu. - respondeu Susan. - Quando eu a avistei pela primeira vez ela estava sozinha e parecia um pouco abatida por sinal.

- Bom - argumentou Davis -, todos estávamos, não é?

- É, tem razão, mas do jeito que ela ofegava parecia que havia corrido bastante para chegar até a praça! - lembrou a jornalista.

Samantha que havia se mantido calada até então, perguntou:

- E se ela não chegou aqui no mesmo dia que nós?

As palavras que haviam acabado de ouvir remoíam agora na cabeça dos nove sobreviventes. O grande problema era que a única pessoa que eles presumiam que poderia esclarecer todas essas dúvidas, havia acabado de ser enterrada.

* * *

A distração do problema não elucidado de Lin havia dado uma grande vantagem a Kaninchen. Graças a todos estarem completamente absortos nos mistérios cada vez maiores daquela cidade, Kan pôde deixar a confeitaria mais cedo naquele dia. Sabia, contudo, que não poderia se demorar ou senão dariam sua falta.

Assim que saiu pelas portas de vidro do estabelecimento, Kaninchen desatou a correr em direção a casa onde planejava e executava seus homicídios. Ao chegar lá, entrou sem bater na porta e se surpreendeu em ver Wert de cabeça baixa apoiada nos braços e sentada na cadeira em que muitos já haviam derramado seu sangue.

- Kani, ainda bem que você chegou! - disse. E quando levantou a cabeça, Kaninchen pode ver que seu rosto estava avermelhado de cólera. - Aconteceu algo horrível!

Já sentindo apreensão por imaginar a perspectiva de mais alguém poder atrapalhar seus planos, Kaninchen não se demorou a perguntar qual era o problema.

- O diário, Kani... o diário... - foi só o que Wert murmurou, lacrimejando de nervosismo e raiva.

- Pare de chorar e diga de uma vez! O que houve com o diário?

- Ele... ele...

- FALE!

- Ele desapareceu!

Naquele momento, a pouca luz que iluminava o cômodo pareceu se apagar para Kaninchen, mergulhando todos seus pensamentos em um apavorante breu. Se fosse verdade, provavelmente a única solução que haveria seria abandonar todo seu estratagema e matar a todos de uma vez. Tentando inutilmente manter a calma, perguntou:

- Como? O que aconteceu afinal?

- O diário, ele... ele estava dentro do baú que há subindo as escadas, você sabe... a última vez que eu conferi se ele estava lá foi ontem, antes de sair à tarde para trazer Lin para cá...

- E? - apressou Kaninchen.

- E hoje quando eu fui procurar o diário, ele não estava mais no baú! Alguém o pegou, Kani, alguém o pegou!

- MALDIÇÃO! Como você deixou isso acontecer?! Foi o grupo das peças pretas, não foi? Óbvio que foi! É, claro, bastou eles esperarem você sair e depois pegarem o diário!

Pensando um pouco, Kaninchen acrescentou:

- Bem, pelo menos eles não têm a chave! Nunca conseguirão abrir o diário sem a chave...

- O problema é que a chave... ela...

- A CHAVE O QUÊ? - berrou Kan, já não conseguindo se conter.

- Não foi minha culpa! - gritou Wert - Eu não sei como aconteceu, juro! Eu coloquei-a na gaveta ontem e hoje quando a procurei não estava...

Wert parou subitamente de falar quando Kaninchen esmurrou uma pequena mesa que havia à sua frente.

- IDIOTA! VOCÊ SABE O QUE VAI ACONTECER SE ELES PUDEREM LER O CONTEÚDO DO DIÁRIO!

- Tente pensar pelo lado positivo - disse Wert cautelosamente - Os escritos do diário estão em latim, eles não conseguirão lê-lo!

- Imbecil - rebateu Kaninchen -, no grupo deles , sim, uma pessoa que conhece a língua!

- É, eu sei, mas a chinesa disse que o homem que sabia ler latim fugiu no mesmo dia em que ela trocou de grupo e ela acreditava que eles não se dariam ao trabalho de procurá-lo!

- ELA MENTIU PRA VOCÊ! Tenho certeza que agora eles vão revirar a cidade inteira em busca desse infeliz!

- Pode até ser, mas eles não poderão achá-lo vivo se você o matar primeiro!

Kaninchen riu, debochado.

- Você acha mesmo que eu vou olhar casa por casa à procura dele?! Além do mais, o grupo em que estou já está começando a ficar mais astuto e precavido. Não, acho que o melhor a fazer é resgatar o diário e a chave.

- E você tem um plano?

Antes de responder, Kan olhou para Wert e deu um leve sorriso.

- Eu sempre tenho um plano.

E saiu.

(Continua...)


Próximo capítulo: Quarta-feira, 28 de novembro