domingo, 1 de julho de 2007

Capítulo 6 - Salto no escuro

Thomas Hobbes - matemático e filósofo - disse, no seu leito de morte, que estava “prestes a iniciar sua última viagem, um salto terrível no escuro”. Willard Tye também estava a ponto de dar esse salto. Assim que fora baleado, olhou para o seu assassino antes de sair correndo, em busca de ajuda. Sabia onde encontraria assistência, mas o chumbo da bala penetrava nos seus órgãos e o atordoava; ele já não tinha mais noção de onde estava indo.

Não estava preparado para isso, achou que já estava seguro, depois de tanto tempo. Contudo, estava enganado. Correu o máximo que pôde, com esperança de sobreviver àquele ataque surpresa, mas percebeu que estava indo na direção errada quando avistou a praça. Para a sua surpresa, também havia quinze pessoas paradas no centro dela, vislumbrando a estátua. Então ela estava certa, pensou.

O salto de Willard em direção às brumas do desconhecido estava prestes a ser dado. Agoniado e sem fôlego, ele caiu no chão. Já não sentia seus membros e a única imagem que enxergava era um ponto luminoso distante que se aproximava. Quando se virou, viu que as pessoas que antes olhavam a estátua agora se reuniam ao redor dele. Ele sabia que estava na hora.

Não podia morrer sem avisá-los. Em uma tentativa desesperada de esforço, Willard sussurrou:

- Cuidado com o Kan...

E essas foram as últimas palavras que Willard Tye conseguiu pronunciar antes de morrer.

- Ele... - sussurrou Joanne.

- Está morto. - confirmou Davis, que estava agachado auscultando os batimentos cardíacos do, agora, cadáver.

- O que ele disse? - perguntou uma moça um pouco mais velha que Joanne que pela semelhança física com esta, aparentava ser sua irmã.

- Disse "cuidado com o Kan". - falou Nicholas, que também estava perto de Willard.

- Quem é Kan?

Jacques esperou uma resposta à sua indagação, mas essa dúvida parecia atormentar o pensamento de todos.

- Quer dizer que... tem mais alguém aqui?

- Aparentemente sim.

- E está armado.

Após essa última frase ter sido proferida, todos procuraram quem a havia dito, já que a voz da pessoa parecia distante. Fora um homem. Um homem moreno com olhos azuis que não fazia parte do grupo dos quinze.

- Quem é você? - perguntou Joanne.

- Gary, e estou na mesma situação que vocês. Também cheguei há pouco aqui.

- E como você sabe que o assassino desse homem está armado? - questionou Davis desconfiado, apontando para Willard.

- Eu vi quando ele chegou correndo. Virem-no de costas e verão que estou certo.

Nicholas e um outro homem do grupo chamado Anthony viraram o morto de costas e viram o ferimento. Uma bala estava cravada na sua medula espinhal e sua camisa permanecia manchada do vermelho do sangue.

- Como será o nome dele? - perguntou Samantha.

Nicholas procurou alguma identidade nos bolsos de Willard, mas não achou nada. Deu de ombros e falou:

- Não dá pra saber... Sabe o nome dele, Gary?

- Ei, alto lá! - retrucou Gary, que já havia se aproximado do grupo - quem você acha que eu sou? Eu o vi chegando e só! Você não me ouviu dizendo que eu cheguei há algumas horas, como vocês?

- Onde estava esse tempo todo, então? - indagou o saxofonista Johann.

- Explorando, por aí.

- Você ouviu o tiro que matou esse homem?

- Não, ele não ouviu. - respondeu Edwin, um arquiteto que estava entre eles. - A arma tinha um silenciador.

Quando todos se viraram para Edwin, viram que ele havia retirado a bala das costas de Willard e estava segurando-a na altura dos olhos.

- Antes que perguntem, eu sei por causa dessa marca horizontal e fina na bala - completou. - só um silenciador faria isso. Aliás, pelo formato da bala, era uma pistola 6 milímetros.

- Você entende bastante de armas, não é?

- Bom, Davis, eu servi o exército por seis anos.

Após a resposta de Edwin, todos ficaram menos receosos com relação ao arquiteto, mas o medo de que um assassino estivesse à solta não os acalmava. Ninguém confiava em ninguém, exceto, talvez, as duas irmãs, mas todos sabiam que se alguém, por ventura, tentasse lhes matar, teriam que se unir.

O aparecimento de um homem que não pertencia ao grupo e o fato haver de um assassino escondido em qualquer canto da cidade, levantava muitas dúvidas. A principal delas era: estavam mesmo sozinhos?

(Continua...)


Próximo capítulo: Domingo, 08 de julho

Um comentário:

Luiz Fernando Teodosio disse...

Li quatro capítulos de uma vez, e mais tarde ei leio o resto. A história tá muita foda. É um dos melhores inícios de história que já li. Vou me apressar até chegar o capítulo atual.