domingo, 19 de agosto de 2007

Capítulo 13 - Extrema Unção

Crédito da ilustração: O autor

O trilar dos grilos e o farfalhar das folhas poderiam ser os únicos sons a perturbar o silêncio da noite naquela cidade. No entanto, também havia o barulho de quinze pessoas que há alguns minutos estavam se preparando para dormir em um restaurante e agora procuravam por um do grupo: o bispo.

Foi como se todos tivessem notado o sumiço dele de uma só vez; procuraram-no rapidamente pelo restaurante, mas, como era de se esperar, não obtiveram sucesso.

Duas pessoas já haviam sido mortas, a idéia de um assassino habitar a cidade já virara fato, e sair à noite, desacompanhado, era inegavelmente uma imprudência.

Mesmo assim, o bispo Di Ravenna, que encarava a morte como algo natural, faria qualquer sacrifício para proteger seu segredo e revelá-lo a alguém que merecesse. Como ele não podia confiar em ninguém, fora obrigado a deixar o restaurante e fazer o que devia ser feito. E ele fez.

Contudo, nenhuma daquelas quinze pessoas tinha conhecimento desse fato. O que eles planejavam agora era enfrentar as brumas de escuridão em busca de um velho homem religioso de setenta e um anos.

Davis, Anthony e Edwin foram escolhidos - sob certos protestos femininos - para serem os líderes da expedição. Todos foram estrategicamente separados em três equipes de busca e, rapidamente, cada um deles saiu do restaurante Ravintola e seguiu sua rota à procura do beato, sem saber aonde ir e com medo de mais surpresas. Agora só se ouviam seus passos pelas ruas de paralelepípedo.

Os únicos seres vivos que permaneceram no restaurante foi um grupo de formigas. No começo do dia havia mais desses insetos, mas muitos deles não suportaram a dura sola do calçado de Gary.

Joanne, Jaqueline, Edwin e Jacques estavam atentos à busca quando algo chamou a atenção do francês. Algo esférico, do tamanho de uma bola de pingue-pongue. Jacques pediu para o grupo lhe esperar por um instante e foi em direção à bola. Assim que chegou mais perto, pegou-a e logo percebeu o que era: um dos olhos do bispo.

* * *

O globo ocular tem duas funções: detectar a luminosidade e convertê-la em impulsos elétricos. Esse mecanismo, que possibilita a visão ou a percepção dos níveis de luz aos animais, acontece em frações de segundos.

Um dos componentes do olho, a retina - nos seres humanos e em alguns primatas - é composta de células foto-receptoras, bastonetes e cones. Nos demais mamíferos os olhos não são capazes de diferenciar as cores, fazendo com que eles só enxerguem preto-e-branco.

Apesar disso, o bispo Di Ravenna tinha perdido o privilégio de ver as belezas ao seu redor, pouco antes de morrer. Ficou impossibilitado de distinguir cores ou vislumbrar algo. Sua memória poderia ter sido um ótimo recurso, porém logo após seus olhos serem retirados, ele morreu.

Jacques, Edwin e as duas irmãs procuravam apressados pelo corpo. Provavelmente ele deveria estar morto. Foi então que eles o viram: um corpo velho, cansado, parcialmente escondido pela batina, deitado no chão. Sangue escorria do lugar em que deveria ter olhos sem brilho, mas que só havia duas fendas.

Sua expressão serena fora substituída por feições cadavéricas e sombrias. Aquilo que não mais respirava era um homem. Um ser humano como qualquer um deles, provavelmente, inocente. E ele estava morto.

Assim que Joanne viu o padre, ajoelhou-se ao seu lado e começou a rezar baixinho.

De vez em quando sua prece era interrompida por soluços. As lágrimas escorriam sem parar pela sua bela face. Todos já haviam percebido algo que ninguém teve a coragem de dizer: se eles não conseguissem sair da cidade, todos morreriam.

Edwin, abalado, saiu para avisar os outros. Nem havia percebido que a chuva que agora caia na penumbra o havia molhado por inteiro.

Minutos depois, quinze pessoas reuniam-se em torno do bispo, como fizeram com Ian. Seu corpo estava inteiro, exceto pelos olhos. Um deles Jacques havia depositado ao lado de seu dono, o outro não havia sido encontrado.

Palavras não eram necessárias naquele momento. Todos evocaram o silêncio para demonstrarem sua compaixão e angústia.

Sem poderem fazer nada pelo bispo, eles voltaram ao restaurante, cabisbaixos. Assim que chegaram, ninguém queria dormir. Era preciso discutir a situação.

- O negócio é o seguinte: há um homicida na cidade e não podemos mais ignorar o fato - disse Nicholas - precisamos nos proteger de alguma forma.

- Acho que enquanto estivermos unidos, estaremos seguros. Todos os que foram atacados estavam sozinhos. - opinou Milena.

- Concordo. - assentiu o saxofonista Johann - Enquanto não descobrimos uma maneira de sair dessa cidade, precisamos andar em grupo e nos mantermos dentro do restaurante.

- Por enquanto nos só sabemos de outras duas pessoas que moravam aqui: o assassino e o tal de Willard. Será que tem mais alguém na cidade? - indagou Anthony.

- Por que não? É bem provável... - respondeu Davis.

- Creio que devemos procurá-los para pedir ajuda. Talvez eles tenham um esconderijo...

- Mas se tiverem, como iremos achá-los? - questionou Nicholas.

- Isso não importa agora - disse Jacques - enquanto ficarmos aqui, estaremos a salvo!

Susan interveio:

- Mas e quando a comida acabar?

Ninguém respondeu. Além de se manterem seguros, precisavam achar alimentos e um pouco de água, antes que morressem desidratados. A única bebida que havia no restaurante era uma única garrafa de vinho que havia restado.

Sem nada mais a fazer, os quinze se ajeitaram entre as cadeiras e as mesas para dormir. A luz foi apagada e o silêncio reinou novamente. No entanto, ninguém adormeceu. Muitas perguntas ainda permaneciam sem resposta e a visão de duas pessoas mortas naquele dia remoia na cabeça de cada um. Haviam acabado de se deitar, mas já ansiavam o amanhecer; nem dormir parecia seguro naquela cidade.

Além disso, ainda precisariam providenciar enterros para o bispo e para Ian. Um último gesto de dignidade.

Dezessete pessoas apareceram misteriosamente naquela cidade quase dois dias atrás. Agora só restavam quinze.

E, no dia seguinte, esse número iria diminuir ainda mais.

(Continua...)


Próximo capítulo: Domingo, 26 de agosto

5 comentários:

Anne disse...

Oiee^^...Omg :S...A história vai se complicando cada vez mais =X...Tá muito bom viu^^...***ansiosa pelo próximo capítulo***...Beeeijo =*

Willians disse...

Pois é.... Como deixar de ler?

No aguardo dos próximos...

Abraços!

Igor Mascarenhas disse...

Grand refox(se é que posso chama-lo assim,rsrs)teu blog ta muito massa,as ilustrações estão bem legais,agora to voltando com meu blog e sempre irei dar uma passada aqui,vou ver ce releio tudo e começo acompanhar ^^.

Fique com Deus
t+

Tifon disse...

Uma pitada de mistério e uma colher de fantasia.... hmmmm :P
O teu blog tem a receita perfeita para ser um "blog de sucesso" .... eh, eh, eh, :)

A partir de agora vou passar por aqui e comentar.
Conta comigo ;)

Podes retribuir-me o favor?

Luiz Fernando Teodosio disse...

hehe...Quanta mais gente morrendo melhor.