quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Capítulo 32 - As Últimas Missões


Jacqueline caminhava sorrateira e nervosa à luz da lua. Suas mãos vacilavam e ela se esforçava para continuar segurando o revólver na mão direita. Ao menor ruído, ela parava e se colocava em posição de dar meia-volta e sair correndo, mesmo sabendo que portava uma arma. Contudo, a única coisa que a acompanhava era sua própria sombra, pouco visível devido à temerosa escuridão.

Enquanto Jaqueline andava pelas ruas e ia se aproximando de seu objetivo, lembrava-se de que se cumprisse essa tarefa, só lhe restaria mais uma, antes que pudesse se juntar à irmã e deixar a cidade; pelo menos fora isso que lhe havia sido prometido.

Fazia dois dias desde que ela havia visto Joanne na praça. Depois de vislumbrá-la por uns instantes, Jacqueline voltara a casa em que era aguardada e entregou a chave a Wert.

- Ah, finalmente! - Wert exclamou.

A modelo ainda não entendia o porquê do entusiasmo, e suas suspeitas de o quê a chave abria não passavam de suposições, porém não se atreveu a perguntar nada. Naquela mesma noite, Wert lhe passou sua terceira missão.

- Vai ser um pouco mais arriscado - falou. - Mas tente não morrer, pois precisaremos de você depois.

“A chave que me trouxe abre um diário, e esse diário também foi roubado de nós”.

Jacqueline sentiu-se infeliz. Certamente apoiaria o roubo de algo que pertencesse a Kaninchen ou Wert, agora, no entanto, provavelmente deveria recuperar o diário para os dois.

“Como já deve ter adivinhado, sua tarefa será resgatá-lo”.

- Com quem está? - Jaqueline perguntou.

- Com o grupo das peças pretas.

- Então de fato há...

- É, de fato há um outro grupo além de vocês e que representa as peças pretas. E não me diga que não sabia! - alertou.

Sem querer insistir no assunto, Jacqueline somente questionou:

- Onde eles moram?

Parecia haver um leve tom de irritação na voz de Wert quando respondeu:

- Não sabemos. Toda vez que os descobrimos eles mudam de casa.

- Por que não matam todos de uma vez?

Subitamente, a moça sentiu que outra pessoa fizera a pergunta em seu lugar. O questionamento soara como uma sugestão, o que fez Wert arquear as sobrancelhas.

- Não é simples assim, menina! Acredite, se pudéssemos, vocês todos já estariam mortos.

- E por que não podem?

Wert nada respondeu.

- Quem manda em vocês? - tornou Jacqueline, mas Wert permaneceu sem pronunciar nenhuma palavra.

Poderia até ordenar que a moça se calasse, entretanto ocupava-se imaginando como sua vida seria diferente se não tivesse que cumprir uma missão naquela cidade; se ao invés de passar a maior parte do tempo em uma casa velha, fosse livre para morar em uma grande cidade e ser uma pessoa normal.

Frustrada com o silêncio, Jacqueline insistiu:

- Isso tem alguma coisa a ver com o diário? O que está escrito nele, afinal?

Dessa vez Wert respondeu, sem temer que a moça pudesse ter curiosidade de abrir o diário e ler suas linhas confidenciais:

- A resposta para todas as suas perguntas.

* * *

Na mesma noite em que fora incumbida de sua última tarefa, sem saber direito o que fazer, Jacqueline começou a andar pela cidade esperando que desse sorte e encontrasse a luz de alguma casa acesa, indicando que haveria moradores.

Infelizmente, não teve sucesso em sua jornada. Mesmo ao passar pela confeitaria, esperando espiar a situação da irmã, encontrou as luzes do estabelecimento todas apagadas e quatro homens de plantão não muito distantes. Por sorte, ninguém a notou.

No dia seguinte, a mesma sina continuou perseguindo-a e Jacqueline nada encontrou. Um dia depois, porém, logo ao amanhecer, ela estava fazendo cuidadosamente sua habitual busca quando pensou ouvir vozes. Não conseguiu discernir o que diziam, mas concluiu que só poderiam ser do grupo que procurava.

Resolveu não continuar por perto, temendo que eles percebessem sua presença e se mudassem de lugar. Guardando pontos de referência ao redor, ela marcou a localização da casa em sua memória e se foi, primeiramente pé ante pé e, logo após, em uma corrida desenfreada.

Agora, horas depois, naquele mesmo dia, Jacqueline caminhava em direção a casa que o grupo das peças pretas habitava; onde Wert realmente acreditava estar o diário.
Assim que chegou àquela casa bege, com uma parede descascada e dois andares, ela repassou mentalmente seu plano.

Quando se sentiu preparada e sabia que não poderia mais adiar o momento, ela abriu a porta silenciosamente e entrou. Se tudo corresse como o esperado, conseguiria pegar o diário e sair sem que ninguém percebesse. A sorte, dessa vez, era sua única aliada.

Após cinqüenta minutos, Jacqueline saiu da casa bege com o diário na mão.

No momento em que Wert recebeu o diário, seus olhos brilharam e uma espécie de felicidade insana tomou conta de si. Estava contente que ele ainda estivesse trancado. Depois de procurar a chave por um bom tempo, achou-a e guardou-a escadas acima, em um lugar que Jacqueline não pôde ver. Em seguida passou, com satisfação, a terceira e última tarefa à modelo:

- Veja, se conseguir cumprir essa missão, estará livre para sempre, garota!

- Você jura?

- Juro, claro. Por tudo o que é mais sagrado! - enfatizou Wert. - Sua ultima tarefa antes da liberdade será... - Jacqueline prendeu a respiração. - Trazer sua irmã até aqui.

Algo despencou no estômago da moça, enquanto ela se esforçava para balbuciar:

- Minha... irmã? Quer dizer, Joanne?

- E por acaso você tem outra? Claro que é a Joaninha!

- Mas pra quê? – questionou Jacqueline, desconfiada.

- Bem, ela é uma mocinha bastante inteligente e observadora, não? Pois bem, eu e Kani precisamos ter uma conversa com ela.

- Uma conversa?

- Uhum. Somente com ela.

- Mas como é que eu vou saber que vocês não vão machucá-la.

Wert sorriu e pareceu, estranhamente, falar com sinceridade:

- Eu prometo que jamais irei encostar um dedo nela!

- Nunca a machucarão?

- Nunca, eu juro.

- Bom, então a trarei até aqui. Só que tem um problema: como vou entrar na confeitaria sem ser notada?

- Kani cuidará disso. Agora vá indo.

E Jacqueline foi, apreensiva e
feliz por reencontrar a irmã.

Chegou à confeitaria por volta de uma hora da madrugada e pela porta de vidro pôde ver Joanne sentada sozinha próxima à entrada.

Não sabia que desculpa Kaninchen havia inventado para afastar todos dali e deixar somente Joanne por perto, mas também não se importava: só se preocupava em abraçar a irmã e trazê-la para perto de si.

Assim que abriu silenciosamente a porta, Joanne a viu e deu um grito de susto.
Jacqueline imediatamente saiu e se escondeu quando ouviu passos de alguém correndo e perguntando a Joanne se estava tudo bem.

A moça respondeu que sim e afirmou que havia apenas se assustado com um pequeno inseto.

Assim que a estudante se encontrava sozinha novamente, esta correu para fora da confeitaria e viu a irmã encostada à parede.

As duas se abraçaram e Joanne não parava de sorrir enquanto conversavam. Estavam sentadas próximas da confeitaria, porém fora do campo de visão de quem olhasse pelas portas de vidro.

Em poucos minutos, Jacqueline deixou Joanne a par de tudo o que passara nos últimos dias.

- E eles querem que eu vá lá também?

- Querem. - respondeu Jacqueline. - Não entendi exatamente o porquê, mas Wert jurou que se te levasse, eles nos deixariam livres depois.

- Temos que ir agora?

- Sim, agora.

- O que estamos esperamos, então? Vamos logo!

Rapidamente as duas foram a casa em que Wert as esperava. Finalmente ficariam livres e poderiam sair daquela cidade.

Assim que as duas moças adentraram a porta da casa, levaram um susto.


(Continua...)

Nota do autor: Pequenas modificações foram feitas nesse capítulo no dia 11 de dezembro de 2007, terça-feira, à 0:10h. Nenhuma delas altera o contexto.


Próximo capítulo: Domingo, 09 de dezembro

2 comentários:

Climão Tahiti disse...

Você foi convocado a participar de um jogo, não sei se vai ou não, mas fica o convite.

Está lá no Pensamentos Equivocados. =p

Luiz Fernando Teodosio disse...

Vou ler mais um sóa pra saber qual é o susto.