domingo, 30 de setembro de 2007

Capítulo 19 - Perseguição, parte II

Nos capítulos anteriores...

Baseando-se na movimentação das peças na estátua de xadrez da praça, as quatorze pessoas perdidas naquela cidade concluíram que o assassino está infiltrado entre elas. Assustada, Melina decidiu que seria mais seguro se ficasse afastada do grupo e, por isso, naquela noite, ela saiu do restaurante enquanto todos pareciam dormir. Todavia, o homicida estava desperto e começou a seguir a argentina com o intento de tirar-lhe a vida. Após perceber que estava sendo seguida e sem esperanças de encontrar a saída da cidade, Melina começa a procurar um lugar para se esconder. No entanto, a cada segundo perdido, há uma pessoa que porta uma pistola e se aproxima cada vez mais dela com um único objetivo: matá-la.



Desesperada, Melina resolveu continuar sua corrida.

Pensava não ser capaz de raciocinar e decidir o que fazer, mas, mesmo assim, precisava tomar uma decisão. A cada esquina que virava seu coração batia cada vez mais rápido, pois ela temia ser surpreendida pela pessoa que a perseguia.

O barulho de mais um tiro sendo disparado espantou a moça, porém não o suficiente para ela parar de correr. Pelo contrário, ela corria cada vez mais rapidamente, como nunca imaginou que pudesse.

Inacreditavelmente, um sentimento de solidariedade começou a tomar o lugar do desespero de Melina. Como se já não estivesse próxima da morte, ela lembrou-se de que havia uma coisa que precisava fazer: precisava avisar os outros quem era a pessoa assassina.

Se eu não avisá-los, pensava, talvez mais gente tenha que morrer antes que eles descubram.

Sentindo suas pernas cansadas, a moça disse a si mesma que se fosse deixar uma mensagem às doze pessoas que agora provavelmente dormiam no restaurante, teria que ser agora.

* * *

Enquanto corria, a pessoa que perseguia Melina mantinha um discreto sorriso no rosto.

Sabia que logo a moça iria se cansar e então seria a sua chance. Finalmente poderia executar sua missão e voltar para o seu descanso no Ravintola.

Tudo estava se saindo exatamente como planejara. Naquela noite mais alguém teria que ser morto e nenhum esforço precisaria ser feito para tal. A “argentina tola”, como a definia em sua cabeça, havia facilitado muito ao sair por livre espontânea vontade de perto de onde todos os outros estavam.

É verdade que quatro balas haviam sido gastas à toa, mas, talvez, em breve, uma bala atravessaria o peito de Melina, fazendo-a sangrar até a morte; pelo menos era isso que a pessoa que corria atrás da moça esperava.

Sem diminuir o passo, começou a se recordar de suas conversas com Melina. Uma delas havia ocorrido na noite em que matara Lisa.

Algumas horas antes do homicídio da mulher de Nicholas, Melina estivera sentada na rua um pouco afastada dos demais. Foi quando quem agora a perseguia, aproximou-se dela e acomodou-se ao seu lado.

- Você me lembra muito uma prima minha, sabia? - perguntou à moça.

- Ela também é argentina? - indagou Melina, sorrindo.

- Não, não é, mas ela sabe dançar tango como ninguém! - riu.

Ela achou graça e continuou observando as estrelas.

- Libra?

- Perdão? - indagou Melina, confusa.

- Você é do signo de Libra?

- Não. Por quê?

- Ora, você é bonita, indecisa e persuasiva!

- Indecisa?! Pois você se enganou, eu sou de Câncer!

- Ah! - exclamou - Sensível, insegura e atrevida...

- E você, é o que? - perguntou a argentina, já um pouco irritada, erguendo as sobrancelhas.

- Bom, eu sou de Leão: uma pessoa talentosa e astuta.

- Realmente - comentou ela com um tom sarcástico em sua voz - você é afável como um Leão.

- E você é pura como...

- Uma virgem?

- Na verdade eu iria dizer as águas de um límpido aquário.

Ela encarou a pessoa à sua frente e virou a cabeça para cima com a finalidade de encerrar a conversa. Agora, um dia após o diálogo, ela estava sendo perseguida por esse mesmo alguém com quem havia discutido astrologia.

Despertando de seus devaneios, a pessoa homicida voltou a ficar mais atenta à perseguição quando, após Melina dobrar uma esquina alguns metros à frente, percebeu que havia perdido a moça de vista.

Acelerando o passo, sabendo que muito em breve isso teria fim, virou a esquina com a pistola erguida, pronto para disparar mais um tiro.

No entanto, era tarde demais. Havia perdido Melina de vista.

* * *

Quando viu que estava prestes a perder fatalmente o fôlego, Melina concentrou suas forças em correr ainda mais rápido para poder sair do campo de visão de quem a seguia e se esconder em alguma das casas.

Para sua sorte, ela rapidamente achou uma porta destrancada após duas tentativas e entrou na casa. Tirou do bolso um objeto que havia achado no restaurante e que seria fundamental para seu plano dar certo: um isqueiro. Curiosamente ele estava ao lado do corpo de Lisa quando foi achado por Melina, quem primeiro viu o cadáver; e ela somente guardou o utensílio consigo caso tivesse que usá-lo mais tarde.

Agora a portenha, como é chamado quem nasce em Buenos Aires, só precisava dar um jeito de escrever uma mensagem. Nesse instante de desespero, Melina revistava a casa em busca de algo que lhe fosse útil e nem reparou no lugar onde estava.

A residência onde se encontrava a moça tinha sete cômodos. A sala era razoavelmente grande e era lindamente decorada, assim como a sala de jantar com sua enorme mesa de vidro e parede pintada com uma variação clara e calmante de azul.

Todavia, como era ilógico para Melina acender a luz da casa, ela não pode admirar a graciosidade do lugar; mesmo porque a moça contava apenas com o isqueiro para a iluminação. A outra utilidade do isqueiro e o porquê de ela achar que precisaria dele para seu plano, era o seguinte: assim que conseguisse deixar uma mensagem aos outros naquela casa, ela atearia fogo às cortinas e o que mais pudesse para que as doze pessoas que agora dormiam no restaurante vissem o incêndio quando acordassem.

E quando fizesse isso, Melina planejava correr para se esconder, pois imaginava que a pessoa que a seguia ficaria bastante ocupada tentando apagar as chamas.

Mesmo para ela, o plano parecia cheio de falhas, no entanto, era a única coisa em que ela conseguia pensar que poderia ser possível fazer em tão pouco tempo.

Finalmente, Melina teve uma idéia e durante os próximos dez minutos pôs-se a executá-la. Surpresa por não ter sido encontrada até agora, a moça começou a criar ainda mais esperanças de que tudo daria certo afinal.

Terminando de escrever o recado de uma forma que o fogo não o apagasse, Melina pegou o isqueiro e começou a queimar qualquer coisa que pudesse ser incendiada.

Contudo, quando viu o brilho das flamas aparecerem, a pessoa que procurava pela argentina rapidamente chegou à casa em chamas e abriu a porta.

Melina estava ateando fogo na última cortina e, quando ouviu a porta sendo aberta e começou a correr era tarde demais.

Após quatro tiros disparados pela pistola 6 milímetros, ela caiu morta no chão.

(Continua...)


Próximo capítulo: Domingo, 07 de outubro