domingo, 14 de outubro de 2007

Capítulo 21 - Doces ou travessuras?

- Coelho? - indagou Luis Filipe, confuso.

- É. O animal mesmo. - afirmou Edwin.

- Mas por que o codinome da pessoa homicida é coelho? E por que é em alemão?

- Bom, Samantha, isso eu já não sei te responder. - o arquiteto disse.

E entre todas aquelas treze pessoas, doze se perguntavam o motivo do apelido, e somente uma sabia a resposta. Sem mais nada para fazer ali, eles pegaram o corpo de Melina e resolveram ir imediatamente para a praça, enterrá-la. Como ela estava nua, exibindo involuntariamente todo o seu corpo, Melina teve que ser coberta com o casaco de um dos homens. Mesmo assim, duas mulheres ajudaram dois homens a levar o cadáver à praça também. E entre quem carregava a argentina, estava aquela pessoa que havia perseguido-a e matado-a. Aquele alguém que tinha escolhido o apelido de Kaninchen, aquela pessoa a quem todos temiam agora, mas ninguém sabia quem era. E Kaninchen agora sorria internamente da ironia de estar levando mais uma de suas vítimas para ser posta debaixo de palmos e palmos de terra...

* * *

Assim que o pequeno funeral havia acabado, todos foram ansiosos observar o tabuleiro de xadrez. Não havia no grupo quem não soubesse o que tinha acontecido com as peças. Mais uma peça branca havia sumido, e isso eles já esperavam. O que ninguém esperava era que mais três peças pretas tivessem sumido também.

Quem mais foi assassinado, era o que todos estavam se perguntando naquele momento. Todos, menos Kaninchen, que sabia muito bem quem havia sido eliminado ontem à noite.

- Foi o Kan? - alguém indagou.

- Provavelmente. - respondeu Davis. - Além da Melina, ele deve ter tirado a vida de mais três pessoas.

- Mas como? - perguntou Joanne. - Como pode haver outras pessoas além de nós nessa cidade horrível se nunca vimos mais ninguém?

- Talvez eles estejam escondidos. - foi o palpite de Nicholas.

Agora no tabuleiro havia vinte e sete peças brancas e vinte e oito pretas. Claramente, só duas peças continuavam comendo as demais: a rainha branca e o rei preto.

E enquanto todos pensavam na situação, Gary retornou.

- Ei, seres, aposto que vão gostar de saber o que eu descobri. - disse.

- O que é, Gary? - perguntaram.

- Ora, por que vocês acham que eu falaria? Acho que eu mereço uma recompensa, não?

- Sabe, eu acho que o que você merece é um soco na cara, seu idiota - ameaçou Anthony, avançando contra o outro, tendo que ser contido por Nicholas e Edwin.

- O que você encontrou, Gary? - inquiriu-lhe Susan, calmamente.

- Eu encontrei a solução para um dos nossos problemas. - ele respondeu. - Uma confeitaria.

* * *

Apesar de sempre se preocuparem mais com o fato de haver um assassino na cidade, a falta de comida estava começando a debilitá-los. Desde que havia esgotado o que comer no restaurante, eles só tinham como saciar sua sede, bebendo a água da fonte interminável próxima à estátua.

Porém, andando pelas ruas, Gary encontrara uma casa que vendia bolos, doces, salgados, lanches, tudo. E o melhor é que todos os produtos estavam lá, como na inauguração do estabelecimento, prontos para acabar com a fome daquelas treze pessoas. Ao chegarem à confeitaria, mais parecida com uma loja de conveniência - e que não tinha nome, por sinal - eles percorreram os corredores ansiosos para ver se aquilo era mesmo real. E era.

Não demorou muito para que cada um escolhesse a comida que mais lhe agrava entre tantas opções e se pusessem a comer. Havia lanches de todos os tipos, croassaints, tortas, bolos, geléias, pães franceses, chocolates, pudins, refrigerantes, sorvetes e tudo o mais. Vendo que não passariam fome durante um bom tempo, todos sorriram e, por um momento, se esqueceram do perigo que os rondava.

Esqueceram-se de que entre eles, apreciando a descoberta, estava o assassino de, no mínimo, quatro pessoas. Ian, o bispo Di Ravenna, Lisa e Melina. Esqueceram-se também de que provavelmente haveria mais vítimas enquanto eles não conseguissem sair daquela cidade; isto é, se conseguissem sair. Mesmo assim todos ficaram bastante contentes com a variedade de alimentos e se separaram por toda a loja para apreciar o que havia lá.

Enquanto passava a manteiga em um pedaço de pão, Davis viu que Samantha se aproximava. A moça, que segurava um prato com um bolo de morango, sentou-se ao lado do rapaz.

Samantha era uma bela moça de 25 anos, que, com seus longos cabelos castanhos e seus olhos claros, era comumente considerada encantadora. Arqueóloga, sempre se dedicou muito à profissão e ao hobby de protetora ambiental. Havia ido à cidade em que todos estavam antes de serem teletransportados com a finalidade de pesquisar um sítio arqueológico próximo. Por culpa do destino, agora estava dentro de uma confeitaria conversando com um homem no qual havia decidido realmente confiar.

- Davis, eu estou preocupada. - começou ela. - Você já imaginou se há, de verdade, um assassino entre nós? E se ele resolve matar todo mundo agora, ao invés de seguir seu plano meticuloso de assassinar um por dia?

- Olhe, Sam - respondeu ele, se dirigindo à Samantha. - para ser bem sincero, eu acho pouco provável que ele faça isso. Acho que o orgulho de matar as pessoas individualmente e de modo tão frio e calculista é maior do que a vontade de eliminar todos nós.

- Você acha? Será que um homem pode ser tão arrogante assim?

- Um homem ou uma mulher, ainda não sabemos. Mas sim, eu acredito que seja assim que ele pensa. Durante minha faculdade de direito eu tive a oportunidade de assistir o julgamento de várias pessoas cujos assassinatos eram somente conseqüência de um plano para fazer suas vítimas sofrerem. É algo meio obsessivo, maníaco, entende?

- Mesmo? Mas o engraçado é que ninguém aparenta ter comportamento psicótico. - observou Samantha.

- Normalmente é assim mesmo. Eles sempre conseguem esconder muito bem suas intenções e loucuras. É como se tivessem dupla personalidade.

- Será que há algum jeito...

- De descobrirmos quem é o homicida? - completou Davis. - Creio que sim. E se nos reuníssemos todos e cada um falasse um pouco mais de sua vida? Sabe, para conhecermos melhor as pessoas com quem estamos convivendo.

- Não sei... será que todos aceitariam? - indagou a moça.

- Bom, se alguém não aceitar, a reunião não será necessária. Já saberemos daí quem é o tal assassino.

(Continua...)


Próximo capítulo: Domingo, 21 de outubro